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Há um ano, quando assumiu de fato a Amil no Brasil, a United Health Group (UHG) percebeu que se não fomentasse um grupo de qualidade e segurança assistencial, a operação não seria sustentável e morreria. Quem conta é o gerente nacional de Educação, Certificação e Avaliação em Qualidade, Segurança e Acreditação da UHG no ramo Américas, que gerencia 22 hospitais no Brasil, o médico anestesiologista Dr. Roberto Manara. “Por que a necessidade de qualidade e segurança assistencial?” perguntou ele na palestra “Rotinas e Protocolos para Acreditação: Elaboração, Implantação e Otimização de Resultados com Renovação Periódica”, no primeiro painel do Simpósio de Inovação de Gestão em Anestesiologia do 8º AnestEdu: “Quarta Revolução Industrial: Tecnologias a Serviço da Segurança do Paciente Cirúrgico e da Sustentabilidade Hospitalar”.
“Por dois motivos”, respondeu ele. “Primeiro, dormirmos em paz, naturalmente, sabendo que estamos fazendo o melhor possível. E segundo: o caixa sempre é o limite. Se assim não for, você não terá como pagar sua operação e ela fica insustentável. Um dos fatores primordiais para a manutenção desse caixa e dessa sustentabilidade é a obtenção de dados. Trabalhar com dados nos possibilita trabalhar prospectivamente, não mais retrospectivamente, e entender e planejar o que vai ocorrer e os custos de operação, sua sustentabilidade.”
O Dr. Manara, que também é corresponsável pelo CET da PUC Sorocaba (SP) e professor do MBA de Qualidade e Segurança da Faculdade de Educação em Ciências da Saúde do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, destacou a importância do fornecimento e da captação de dados e indicadores de qualidade em saúde para o desenvolvimento de qualquer trabalho de gestão da qualidade e de processos, e lamentou que hoje, no Brasil, não haja disponibilidade de dados 100% confiáveis. Por isso, a dificuldade da realização do pagamento por performance da forma mais justa e sustentável possível. “Precisamos discutir a sustentabilidade do sistema de saúde. O pagamento por performance já está ocorrendo. É o presente e vai ser o futuro”, afirmou.
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Acreditação hospitalar
E a acreditação hospitalar? “Trabalhei por 15 anos na avaliação da JCI, e se você me perguntar: um hospital certificado é um hospital que tem qualidade e segurança? Eu vou responder: não”, declarou o Dr. Manara. Para ele, o problema é que se vendeu, no Brasil, qualidade como selo de certificação, mas só há qualidade e segurança se primeiro houver cultura de segurança, ou seja, se as pessoas colocarem em prática as exigências dos manuais porque compreenderam que o que estão fazendo faz sentido e não porque a acreditadora quer ou está presente naquele momento.
Então a acreditação hospitalar não tem importância? Também não é isso. A Agência Nacional de Saúde (ANS), por exemplo, determina que um dos critérios para pagamento por performance para hospitais é que o hospital seja certificado.
Entre 20 hospitais da Américas, oito são certificados pela Organização Nacional de Acreditação (ONA) e sete pela JCI. O ramo Américas também tem sete ambulatórios e oito programas certificados pela JCI e um programa certificado pela Canadian Accreditation (CAN). “A certificadora nos diz que somos bons, o que também é muito importante do ponto de vista de marketing e principalmente para certificadoras internacionais, pois muitas operadoras internacionais exigem que os hospitais sejam internacionalmente certificados. Mas sempre se lembre: certificação não é igual à qualidade e segurança, só vai ser igual quanto você tiver cultura de segurança”, afirmou o Dr. Manara.
Acreditação hospitalar no Brasil
O que é acreditação hospitalar? A definição é muito simples: acreditação é um processo pelo qual uma instituição de saúde é avaliada. Essa avaliação se dá em função de um conjunto de padrões previamente estabelecidos e deve ser realizada por determinada organização, dita “acreditadora”. O Dr. Roberto Manara explicou que uma instituição como a Organização Internacional para Padronização (sigla em inglês para International Organization for Santardization – ISO) ou JCI, etc. vai ao seu hospital e o avalia sob a égide de uma “Bíblia” que é um manual de padrões. Se a instituição estiver conforme aqueles padrões, está certificada.
No Brasil, o primeiro hospital acreditado pela JCI, por exemplo, foi o Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, em 1999, ou seja, a história de acreditação hospitalar no Brasil é muito recente e, segundo o Dr. Manara, ainda não está tão associada à cultura de segurança, mas mais ao “marketing de instituição acreditada”. Ele disse que basicamente, quando se fala em acreditação hospitalar no Brasil, fala-se em JCI, ISO, ONA e CAN.
Número de instituições acreditadas no Brasil:
- ONA: 295
- Accreditation Canada: 45
- JCI: 38
Para o Dr. Manara, a acreditação hospitalar traz economia e custa menos do que pode parecer: “Você não precisa ser certificado pela acreditadora, mas pode fazer esse trabalho em seu hospital, comprar um manual de acreditação hospitalar e, se tiver cultura de segurança, seguir o manual, que nada mais é do que um manual de gestão hospitalar, aproximando a gestão da ponta.”
Elaboração de rotinas e protocolos para acreditação hospitalar
O Dr. Roberto Manara destacou a rotina de documentação na elaboração de rotinas para acreditação e gestão hospitalar: “Tem que haver acervo documental permanente. Você não é permanente e eventualmente vai sair do hospital. As rotinas, os documentos, as políticas, os gerenciadores precisam estar nesse acervo”.
Paralelamente ao acervo documental, deve ocorrer o desenvolvimento dos protocolos gerenciados, que fornecem os dados. “A partir do gerenciamento desses dados, vem o entendimento de como fazer uma medicina prospectiva e não retrospectiva”, disse o Dr. Manara e deu um exemplo dos Estados Unidos: o paciente tem um sintoma de AVC. Ele ou o responsável entra em um aplicativo de celular que o localiza por GPS e indica o local mais perto da casa dele, com a melhor eficiência no tratamento do AVC. Não são necessários 20 hospitais tratando AVC em uma região, mas um hospital com uma equipe dedicada somente ao tratamento do AVC, com automação e por isso melhor eficácia e performance. E quem fornece essas informações? Os dados.
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Outra rotina da Américas que o Dr. Manara destacou são as auditorias internas, Assestments, e externas, acreditações e certificações, nos hospitais. No Assestment, permanentemente, cinco pessoas, sob a liderança do Dr. Manara, realizam auditorias internas para entender se os processos estão ocorrendo de fato com qualidade e cultura e segurança e para o fornecimento e a captação de dados. Nas auditorias externas, o que ilustra a importância da acreditação hospitalar, as certificadoras são acionadas.
Qualidade assistencial e cultura de segurança
Uma das formas de resolver a sustentabilidade da operação, para o Dr. Manara, é trabalhar em conjunto – gestor, anestesista, cirurgião, hospital, operadora de saúde, empresa de produtos médicos, indústria farmacêutica – pela qualidade no hospital. “A importância disso é tanta que neste ano temos um orçamento para investimento em qualidade e segurança de US$ 80 milhões em 22 hospitais, o maior da América Latina”, contou.
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Um trabalho recente no Jama (Journal of the American Medical Association) mostrou que 20% das vezes em que ocorreu um erro de lateralidade, alguém dentro do centro cirúrgico sabia, mas não falou. “Não falou por medo, culpa, loucura, enfim, por falta de cultura de segurança. Algum médico acorda de manhã pensando: hoje eu vou errar? É óbvio que não, mas nós somos falíveis e vamos errar se não tivermos isso: gestão de qualidade em saúde”, afirmou.
Para o Dr. Manara, primeiro deve vir a cultura de segurança e, logo em segundo, o engajamento e a experiência do paciente: “Tratar bem não é nada além da nossa obrigação. O paciente vai ao seu consultório sabendo que você precisa tratá-lo bem, com qualidade e segurança”.
O objetivo maior é evitar o evento adverso. E o que é evento adverso? A definição mais simples diz que evento adverso em saúde é toda ocorrência imprevista, indesejável ou potencialmente perigosa na instituição de saúde.
E mais, evitar o evento sentinela. Evento sentinela em saúde é qualquer evento inesperado que implique em morte ou perda grave e permanente da função. Exemplo: erro de medicação ou na administração de medicamentos, cirurgia em local errado e em paciente errado, suicídio, troca de bebê após o nascimento, etc. O Dr. Manara destacou a responsabilidade do médico anestesiologista em erros de medicação ou na administração de medicamentos.